Reconfigurando o espaço urbano: mobilidade, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade

Por Ana Lívia Chaves Barros (Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da FASC)
Por Ana Lívia Chaves Barros (Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da FASC)

Reconfigurando o espaço urbano: mobilidade, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade
Por Ana Lívia Chaves Barros (Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da FASC)
A ligação entre mobilidade urbana, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade é fundamental para entender a dinâmica das cidades. Esse elo é complexo e variado, influenciando profundamente o desenvolvimento das áreas urbanas e a qualidade de vida de seus habitantes. Este artigo de opinião explora como esses elementos se comunicam e discute desafios e oportunidades para criar cidades mais justas e inclusivas no contexto do rápido crescimento urbano.
A mobilidade urbana corresponde à forma como as pessoas se deslocam dentro de áreas urbanas e engloba o uso de diferentes modos de transporte, como carros, ônibus, bicicletas e a pé. O direito à cidade inclui o direito de todos os cidadãos à mobilidade adequada. Isso significa que as pessoas devem ter acesso fácil e acessível a diferentes modos de transporte, como transporte público, ciclovias e calçadas seguras.
Entretanto, o planejamento inadequado da mobilidade urbana, como a falta de transporte público de qualidade ou infraestrutura inadequada para pedestres e ciclistas, pode limitar o acesso a essas oportunidades, especialmente para aqueles de baixa renda que dependem mais do transporte público. Para enfrentar essa problemática, é necessário focar em transporte público eficiente, opções de deslocamento sustentáveis e um planejamento urbano inteligente.
A gentrificação é um processo de renovação urbana que atrai residentes de classes mais altas para áreas anteriormente degradadas, resultando frequentemente no deslocamento de comunidades de baixa renda devido ao aumento dos custos de moradia. Ela frequentemente traz melhorias na infraestrutura e nos serviços de transporte para áreas urbanas renovadas. Por exemplo, novas linhas de metrô ou sistemas de ônibus podem ser implantadas para atender às necessidades dos novos moradores de classe média ou alta.
No entanto, esse processo pode resultar em aumentos nos custos de moradia e deslocamento de moradores de baixa renda, forçando-os a se afastar das áreas urbanas. Isso pode agravar os problemas de mobilidade para essas populações, uma vez que podem enfrentar deslocamentos mais longos e custos mais elevados de transporte para acessar seus empregos e serviços. Esse fenômeno tem impactos mistos, incluindo melhorias na infraestrutura, mas também questões de desigualdade e exclusão social.
A gentrificação frequentemente provoca debates sobre o direito à cidade, uma vez que leva ao deslocamento de comunidades de baixa renda. Os moradores originais muitas vezes se veem forçados a deixar suas casas devido ao aumento dos custos de moradia. O direito à cidade pressupõe que todos os cidadãos têm o direito de permanecer em suas comunidades e participar das decisões urbanas que os afetam. A gentrificação, ao restringir esse direito, levanta questões sobre justiça e igualdade no acesso aos benefícios urbanos.
A arquitetura hostil, que tende a desencorajar a presença de certos grupos em espaços urbanos, muitas vezes viola o direito à cidade. Isso acontece ao restringir o acesso a áreas públicas, como parques ou praças, para pessoas sem-teto, jovens ou outros grupos considerados “indesejáveis”. Isso é alcançado por meio de medidas arquitetônicas, como a instalação de bancos desconfortáveis, espaços públicos pouco acolhedores ou o uso de superfícies ásperas e inclinações em locais onde as pessoas poderiam se abrigar. Essas medidas limitam o acesso a espaços públicos e também mantêm a exclusão social.
Em algumas situações, a arquitetura hostil pode ser usada como uma ferramenta sutil de gentrificação. Por exemplo, a instalação de bancos desconfortáveis em espaços públicos pode ser projetada para afastar pessoas sem-teto, o que pode ser uma parte do esforço para tornar uma área mais atraente para novos moradores. Essas ações podem agravar as desigualdades sociais, já que os grupos mais vulneráveis são empurrados para áreas com menos acesso a transporte e oportunidades.
Embora a arquitetura hostil seja muitas vezes justificada com base na segurança e na ordem pública, ela gera conflitos significativos, uma vez que pode ser vista como uma violação do direito à cidade e como uma forma de discriminação contra grupos vulneráveis. Além disso, essas medidas podem ser ineficazes na resolução de problemas sociais fundamentais, como a falta de moradia.
Em síntese, a ligação entre mobilidade urbana, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade é marcada por tensões e complexidades. A promoção de cidades justas e inclusivas requer um planejamento urbano sensível a essas relações, garantindo que a mobilidade seja acessível, que a gentrificação seja tratada de maneira igualitária e que a arquitetura urbana respeite o direito de todos os cidadãos à cidade, independentemente de sua origem ou status socioeconômico.
*Texto produzido na disciplina Leitura e Produção Textual ministrada pelo professor José Roberto Duarte