01. JAMAIS USE GÍRIAS EM SUA DISSERTAÇÃO. As gírias são um meio de ex¬pressão perfeitamente aceitável em certos momentos de textos narrativos, em espe-cial nos diálogos travados por alguns personagens. Tornam-se, entretanto, comple-tamente inadequadas quando usadas em uma dissertação. Esta modalidade de re¬dação pressupõe uma linguagem formal, não necessariamente erudita, mas pelo menos bem elaborada. Mais do que palavras, um exemplo pode ilustrar com maior clareza os danos causados pela gíria em uma dissertação. Leia este trecho dissertativo:
Todo mundo sabe da gravidade que tem, hoje em dia, o problema das drogas na nossa sociedade. Muita gente e até a polícia tentam fazer alguma para acabar com as drogas, mas muitos caras, a maioria gente da pesada, se negam a deixar de curtir seu baratinho, não dando a míni¬ma para os meganhas que seu encalço.
02. NÃO UTILIZE PROVÉRBIOS OU DITOS POPULARES. Uma dissertação costuma ser prejudicada pela má utilização de frases feitas, provérbios e ditos populares. Eles empobrecem a redação; fazem parecer que seu autor não tem criatividade, pois lança mão de formas de expressão já batidas pelo uso freqüente. Veja que efeito prejudicial causaria um provérbio em um texto dissertativo:
O problema da violência é algo do qual não podemos mais fugir. Por décadas sucessivas, assistimos ao abandono de um número incontável de menores carentes. Grande parte destas crianças, condenadas à marginalidade, tornaram-se bandidos perigosos.
Hoje, é muito comum o fato de alguns menores, perambulando pelas ruas por falta de escolas ou um lugar melhor para ficar, serem influenciados por estes pequenos delinqüentes, aos quais acabam se unindo pa¬ra praticarem delitos. Afinal, já dizia meu avô: “Dize-me com quem andas, que eu te direi quem és”.
03. NUNCA SE INCLUA EM SUA DISSERTAÇÃO
(principalmente para contar fatos de sua vida particular). Dissertar é analisar um assunto proposto, emitindo opi¬niões gerais. Deve ser feito de modo impessoal e com total objetividade. Essa visão imparcial se perde quando o autor confunde a problemática que está analisando com os problemas particulares que possa ter. Note o que pode acontecer:
Todos nós, apreensivos, observamos que o mundo moderno caminha para o caos. Vemos que a confusão, o desentendimento entre habitantes metropolitanos, os conflitos entre as nações e a ameaça de uma guerra atômica podem perfeitamente levar o homem à sua própria destruição. Eu vejo por mim mesma. Mal tenho tempo de dormir. Levanto de madru¬gada para pegar aqueles ônibus super-lotados. Trabalho o dia inteiro e qua¬se não tenho tempo de estudar as matérias para as provas do meu colégio noturno. Além de tudo isso, meu patrão não me autoriza a ir ao médico, quando necessito.
OBSERVAÇÃO:
Você pode se posicionar sobre determinados temas, mas deve evitar a forma individualizada de fazê-lo, como ocorre no exemplo acima.
04. NÃO UTILIZE SUA DISSERTAÇÃO PARA PROPAGAR DOUTRINAS RELIGIO¬SAS. A religião, qualquer que seja ela, é uma questão de fé; a dissertação, por sua vez, é uma questão de argumentação, a qual se baseia na lógica. São, portanto, duas áreas situadas em diferentes planos. Não há como argumentar de modo convincente com base em dogmas religiosos; os preceitos da fé independem de provas ou evidências constatáveis. Torna-se, assim, completamente descabido fundamentar qualquer tema dissertativo em idéias que se situem em um plano que transcende a razão. Veja o inconveniente desse procedimento, através deste exemplo:
Nas últimas décadas, o mundo tem assistido, com muita apreensão, a conflitos localizados que emergem em diferentes pontos geográficos. Mui¬tos temem que estas guerras, embora restritas a determinadas regiões, acabem por envolver as duas grandes potências, desencadeando uma guer¬ra de caráter mundial.
Para combater esta contínua ameaça, só há uma solução: Jesus Cristo. O homem precisa lembrar que Deus mandou seu único filho a fim de mor¬rer na cruz para nos salvar. Ele derramou Seu sangue por nós, para li¬vrar a humanidade de seus pecados. Só com Jesus poderemos sobreviver, pois Ele é nosso mestre e Senhor.
05. JAMAIS ANALISE OS TEMAS PROPOSTOS MOVIDO POR EMOÇÕES EXA¬GERADAS. Existem, sem dúvida, alguns temas dissertativos que envolvem a aná¬lise de assuntos dramáticos, os quais comumente causam revolta e indignação pela própria gravidade de sua natureza. Porém, por mais revoltante que se mostre o assunto tratado, ele deve ser abordado, em uma dissertação, de modo, se não im-parcial, pelo menos comedido. Em outras palavras, não devemos deixar nossas emo-ções interferirem demasiadamente na análise equilibrada e objetiva que precisa transparecer em nossas dissertações, mesmo porque elas impedem que pondere¬mos outros ângulos da questão. Só assim, com a predominância da argumentação lógica, ela se mostrará convincente. Veja como a interferência do aspecto emocio¬nal pode prejudicar a elaboração deste modo:
Hoje, associam-se inúmeros fatores que intranqüilizam a população das grandes cidades. A superlotação dos presídios, a ineficiência das entida¬des ligadas ao menor delinqüente e os recursos limitados das forças policiais criam as condições favoráveis para a proliferação da criminalidade.
Os noticiários apresentam-nos todos os dias crimes bárbaros cometi¬dos por verdadeiros animais, que deveriam ser exterminados, um a um, pela sua perversidade sem fim.
Estas criaturas monstruosas atacam, nas ruas escuras da periferia, po¬bres mulheres indefesas e as matam, impiedosamente. Amaldiçoados criminosos, andam por aí disseminando a podridão de suas almas, que hão de arder para sempre no fogo do inferno.
Pessoas como essas, que assassinam inocentes criancinhas, deveriam ser postas em cadeiras elétricas, o mais rápido possível. Morte aos mons¬tros do crime!
06. NAO UTILIZE EXEMPLOS CONTANDO FATOS OCORRIDOS COM TERCEI¬ROS, QUE NÃO SEJAM DE DOMÍNIO PÚBLICO. É um procedimento perfeita¬mente normal lançarmos mão de exemplos que reforcem os fatos arrolados em uma dissertação. Entretanto, estes exemplos devem ser de conhecimento público, ou seja, fatos que todos conheçam por terem sido divulgados pelos meios de comuni-cação (jornais, rádio, televisão, etc.).
Não devemos, em hipótese alguma, introduzir na dissertação fatos ocorridos com pessoas que conhecemos particularmente. Isso daria um cunho pessoal a um tipo de redação que se propõe a analisar assuntos gerais. Veja um exemplo deste tipo de incorreção:
A prospecção de petróleo em plataformas marítimas em muito tem con-tribuído para o sucesso da Petrobras no cumprimento dos contratos de risco que assinou com vários países. Aqui mesmo nas costas brasileiras testemunhamos a construção e funcionamento destas plataformas que, em sua maioria, contribuem para aumentar as nossas reservas petrolíferas.
O filho de minha vizinha, Dona Laura, trabalhava em uma dessas pla-taformas. Ela levou um susto incrível quando houve um acidente há pou¬co tempo atrás. Seu filho sofreu algumas queimaduras e foi internado às pressas em estado grave. Dona Laura ficou a seu lado o tempo todo e feliz¬mente ele sobreviveu ao terrível incêndio que praticamente destruiu aquele local e causou prejuízos enormes.
07. EVITE AS ABREVIAÇÕES. Procure escrever as palavras por extenso. As abre-viações são consideradas incorretas. Você não deve escrever frases como estas:
O ministro c/ seus assessores saíram da sala de reunião.
Verificaremos outros pontos da questão p/ compreendermos melhor esse assunto.
Os cidadãos daquele país tb se preocupam com a redemocratização.
08. NUNCA REPITA VÁRIAS VEZES A MESMA PALAVRA. Um dos erros que mais prejudica a expressão adequada de suas idéias é a insistente repetição de uma mesma palavra. Isso causa uma impressão desagradável a quem lê sua redação, além de sugerir pobreza de vocabulário. Quando você constatar que repetiu várias vezes o mesmo vocábulo, procure imediatamente encontrar sinônimos que possam ser usados em substituição a ele. Observe um exemplo:
Os empresários têm encontrado certos problemas para contratar mão-de-obra especializada, nesses últimos meses. O problema da mão-de-obra é conseqüência de um problema maior: os altos níveis de desemprego cons-tatados algum tempo atrás. Enfrentando problemas para conseguir em-pregos nas fábricas a que estavam acostumados, dedicaram-se a outras atividades, criando, para as Indústrias, o problema de não encontrar pes¬soas acostumadas a funções especificas. Demorará ainda algum tempo pa¬ra que este problema seja solucionado.
09. PROCURE NÃO INOVAR, POR SUA CONTA, O ALFABETO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Evidentemente, certas caligrafias apresentam algumas variações no modo de escrever determinadas letras do nosso alfabeto. No entanto, essa possível varia¬ção não deve ser exagerada a ponto de tornar a letra praticamente irreconhecível.
10. TENTE NÃO ANALISAR OS ASSUNTOS PROPOSTOS SOB APENAS UM DOS ÂNGULOS DA QUESTÃO. Uma boa análise pressupõe um exame equilibrado da realidade na qual se situa o assunto tratado em uma dissertação. O bom senso, nas opiniões emitidas, está diretamente relacionado à capacidade de se enxergar o problema pelos diversos ângulos que apresenta. Uma análise extremamente ra¬dical ignora outros aspectos que devem ser levados em conta em uma reflexão equi¬librada sobre qualquer tema, por isso é indesejável. Note, neste trecho, como isso ocorre:
O advento da televisão nas últimas três décadas foi, com certeza, o gol¬pe mortal desferido na inteligência e na cultura dos milhões de telespec¬tadores que dela se utilizam e que a ela estão inconscientemente aprisio¬nados. É a televisão a grande responsável pelo processo de massificação a que se submetem principalmente as novas gerações. Afastadas dos li¬vros e das formas mais eruditas da música e de outras artes, têm diante dos olhos o desenrolar de programas medíocres que promovem, indiscu¬tivelmente, a desinformação.
Isso sem contar com as distorções de comportamento provocadas prin-cipalmente nas crianças que assistem, impassíveis, aos desenhos que pri¬mam pela violência, destruição e insensibilidade.
Este veículo de comunicação é, sem dúvida, o mal do nosso século: des¬trói o espírito crítico e promove a alienação em todos os níveis.
11. NÃO FUJA AO TEMA PROPOSTO. Quando você receber um tema para dissertar sobre ele, leia-o com atenção e escreva sobre o que se pede. Jamais fuja do assunto solicitado, mesmo que seus conhecimentos sobre ele sejam mínimos. Costuma-se atribuir nota zero (ou um pouco mais) a uma redação sobre outro assunto não aquele pedido. Não é difícil entendermos o quanto seria absurdo alguém seriar sobre os acidentes ocorridos em usinas nucleares em várias partes do mundo quando o tema pedido fosse o problema dos menores abandonados no Brasil. Para evitar esse tipo de inconveniência, antes de começar a elaborar a redação convém ler várias vezes o tema para compreender exatamente o que está se solicitado.
Às vezes comete-se um outro engano semelhante ao que foi comentado acima: de acontecer de se desenvolver um tema similar àquele que foi proposto. Isso também prejudica demais a redação, pois mostra que a pessoa não apresenta capacidade de ler e interpretar corretamente a solicitação feita. Suponhamos que o tema fosse o seguinte:
O governo brasileiro vem empreendendo esforços para, juntamente com o governo da República Argentina, criar acordos de cooperação econômica, lançando as bases para a possível formação de um mercado comum sul-americano.
Caso não compreendesse bem o conteúdo dessas afirmações, a pessoa poderia incorrer no erro de dissertar sobre algum assunto paralelo. Por exemplo, escreveria sobre como essas duas nações conseguiram retomar os rumos da democratização, depois de longos períodos de ditadura militar. Embora esta análise esteja relacionada com o tema dado, não aborda propriamente o assunto central proposta ou seja, os acordos de cooperação econômica.
ATENÇÃO!
Até agora, mostramos o que você não deve fazer em sua dissertação. Terminaremos este assunto com uma recomendação importantíssima sobre o que deve ser feito:
Utilize sempre a 1ª pessoa do plural em vez da 1ª pessoa do singular em suas dissertações. Em outras palavras, você deve escrever “acreditamos”, “entendemos”, “analisamos”, e não “acredito”, “entendo”, “Analiso”. Saiba que, embora possa pa-recer um tanto estranho, este é o procedimento habitual quando se redige uma disserta¬ção. Para que você entenda melhor, daremos um exemplo transcrevendo a Conclusão de uma composição, inicialmente na 1ª pessoa do singular e, depois, na 1ª pessoa do plural:
Em vista do que foi observado, verifico a existência de um nítido contraste entre estas duas regiões brasileiras. Espero, como cidadão sensível a essa pro¬blemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos os brasileiros condições dignas de subsistência.
Em vista do que foi observado, verificamos a existência de um nítido con-traste entre estas duas regiões brasileiras. Esperamos, como cidadãos sensí-veis a essa problemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos os brasileiros condições dignas de subsistência.
Leia com atenção os dois parágrafos conclusivos e observe o diferente efeito causado pelo uso de uma ou de outra pessoa do discurso. Parece-nos indiscutível o fato de a 1ª pessoa do plural imprimir à redação um cunho impessoal, além de elevar o nível da linguagem. Ademais, é a forma convencionalmente usada nas dissertações em geral.
Para finalizar nossas considerações sobre a dissertação, convém dar uma última su-gestão: procure sempre se manter informado sobre os mais diversos assuntos. Quanto melhor você conseguir compreender as questões econômicas, políticas e sociais de seu país e do exterior, maiores condições terá de redigir sobre qualquer tema.
Não perca oportunidades de conversar com pessoas que conheçam determinado as-sunto, na tentativa de aprender algo com elas. Ler jornais e revistas, assistir a progra-mas de telejornalismo, ouvir entrevistas pelas emissoras de rádio também parece-nos muito importante.
Somando o que você puder aprender através destes procedimentos às informações que lhe são transmitidas durante as aulas, você certamente ampliará cada vez mais sua cultura geral.
Todo mundo sabe da gravidade que tem, hoje em dia, o problema das drogas na nossa sociedade. Muita gente e até a polícia tentam fazer alguma para acabar com as drogas, mas muitos caras, a maioria gente da pesada, se negam a deixar de curtir seu baratinho, não dando a míni¬ma para os meganhas que seu encalço.
02. NÃO UTILIZE PROVÉRBIOS OU DITOS POPULARES. Uma dissertação costuma ser prejudicada pela má utilização de frases feitas, provérbios e ditos populares. Eles empobrecem a redação; fazem parecer que seu autor não tem criatividade, pois lança mão de formas de expressão já batidas pelo uso freqüente. Veja que efeito prejudicial causaria um provérbio em um texto dissertativo:
O problema da violência é algo do qual não podemos mais fugir. Por décadas sucessivas, assistimos ao abandono de um número incontável de menores carentes. Grande parte destas crianças, condenadas à marginalidade, tornaram-se bandidos perigosos.
Hoje, é muito comum o fato de alguns menores, perambulando pelas ruas por falta de escolas ou um lugar melhor para ficar, serem influenciados por estes pequenos delinqüentes, aos quais acabam se unindo pa¬ra praticarem delitos. Afinal, já dizia meu avô: “Dize-me com quem andas, que eu te direi quem és”.
03. NUNCA SE INCLUA EM SUA DISSERTAÇÃO
(principalmente para contar fatos de sua vida particular). Dissertar é analisar um assunto proposto, emitindo opi¬niões gerais. Deve ser feito de modo impessoal e com total objetividade. Essa visão imparcial se perde quando o autor confunde a problemática que está analisando com os problemas particulares que possa ter. Note o que pode acontecer:
Todos nós, apreensivos, observamos que o mundo moderno caminha para o caos. Vemos que a confusão, o desentendimento entre habitantes metropolitanos, os conflitos entre as nações e a ameaça de uma guerra atômica podem perfeitamente levar o homem à sua própria destruição. Eu vejo por mim mesma. Mal tenho tempo de dormir. Levanto de madru¬gada para pegar aqueles ônibus super-lotados. Trabalho o dia inteiro e qua¬se não tenho tempo de estudar as matérias para as provas do meu colégio noturno. Além de tudo isso, meu patrão não me autoriza a ir ao médico, quando necessito.
OBSERVAÇÃO:
Você pode se posicionar sobre determinados temas, mas deve evitar a forma individualizada de fazê-lo, como ocorre no exemplo acima.
04. NÃO UTILIZE SUA DISSERTAÇÃO PARA PROPAGAR DOUTRINAS RELIGIO¬SAS. A religião, qualquer que seja ela, é uma questão de fé; a dissertação, por sua vez, é uma questão de argumentação, a qual se baseia na lógica. São, portanto, duas áreas situadas em diferentes planos. Não há como argumentar de modo convincente com base em dogmas religiosos; os preceitos da fé independem de provas ou evidências constatáveis. Torna-se, assim, completamente descabido fundamentar qualquer tema dissertativo em idéias que se situem em um plano que transcende a razão. Veja o inconveniente desse procedimento, através deste exemplo:
Nas últimas décadas, o mundo tem assistido, com muita apreensão, a conflitos localizados que emergem em diferentes pontos geográficos. Mui¬tos temem que estas guerras, embora restritas a determinadas regiões, acabem por envolver as duas grandes potências, desencadeando uma guer¬ra de caráter mundial.
Para combater esta contínua ameaça, só há uma solução: Jesus Cristo. O homem precisa lembrar que Deus mandou seu único filho a fim de mor¬rer na cruz para nos salvar. Ele derramou Seu sangue por nós, para li¬vrar a humanidade de seus pecados. Só com Jesus poderemos sobreviver, pois Ele é nosso mestre e Senhor.
05. JAMAIS ANALISE OS TEMAS PROPOSTOS MOVIDO POR EMOÇÕES EXA¬GERADAS. Existem, sem dúvida, alguns temas dissertativos que envolvem a aná¬lise de assuntos dramáticos, os quais comumente causam revolta e indignação pela própria gravidade de sua natureza. Porém, por mais revoltante que se mostre o assunto tratado, ele deve ser abordado, em uma dissertação, de modo, se não im-parcial, pelo menos comedido. Em outras palavras, não devemos deixar nossas emo-ções interferirem demasiadamente na análise equilibrada e objetiva que precisa transparecer em nossas dissertações, mesmo porque elas impedem que pondere¬mos outros ângulos da questão. Só assim, com a predominância da argumentação lógica, ela se mostrará convincente. Veja como a interferência do aspecto emocio¬nal pode prejudicar a elaboração deste modo:
Hoje, associam-se inúmeros fatores que intranqüilizam a população das grandes cidades. A superlotação dos presídios, a ineficiência das entida¬des ligadas ao menor delinqüente e os recursos limitados das forças policiais criam as condições favoráveis para a proliferação da criminalidade.
Os noticiários apresentam-nos todos os dias crimes bárbaros cometi¬dos por verdadeiros animais, que deveriam ser exterminados, um a um, pela sua perversidade sem fim.
Estas criaturas monstruosas atacam, nas ruas escuras da periferia, po¬bres mulheres indefesas e as matam, impiedosamente. Amaldiçoados criminosos, andam por aí disseminando a podridão de suas almas, que hão de arder para sempre no fogo do inferno.
Pessoas como essas, que assassinam inocentes criancinhas, deveriam ser postas em cadeiras elétricas, o mais rápido possível. Morte aos mons¬tros do crime!
06. NAO UTILIZE EXEMPLOS CONTANDO FATOS OCORRIDOS COM TERCEI¬ROS, QUE NÃO SEJAM DE DOMÍNIO PÚBLICO. É um procedimento perfeita¬mente normal lançarmos mão de exemplos que reforcem os fatos arrolados em uma dissertação. Entretanto, estes exemplos devem ser de conhecimento público, ou seja, fatos que todos conheçam por terem sido divulgados pelos meios de comuni-cação (jornais, rádio, televisão, etc.).
Não devemos, em hipótese alguma, introduzir na dissertação fatos ocorridos com pessoas que conhecemos particularmente. Isso daria um cunho pessoal a um tipo de redação que se propõe a analisar assuntos gerais. Veja um exemplo deste tipo de incorreção:
A prospecção de petróleo em plataformas marítimas em muito tem con-tribuído para o sucesso da Petrobras no cumprimento dos contratos de risco que assinou com vários países. Aqui mesmo nas costas brasileiras testemunhamos a construção e funcionamento destas plataformas que, em sua maioria, contribuem para aumentar as nossas reservas petrolíferas.
O filho de minha vizinha, Dona Laura, trabalhava em uma dessas pla-taformas. Ela levou um susto incrível quando houve um acidente há pou¬co tempo atrás. Seu filho sofreu algumas queimaduras e foi internado às pressas em estado grave. Dona Laura ficou a seu lado o tempo todo e feliz¬mente ele sobreviveu ao terrível incêndio que praticamente destruiu aquele local e causou prejuízos enormes.
07. EVITE AS ABREVIAÇÕES. Procure escrever as palavras por extenso. As abre-viações são consideradas incorretas. Você não deve escrever frases como estas:
O ministro c/ seus assessores saíram da sala de reunião.
Verificaremos outros pontos da questão p/ compreendermos melhor esse assunto.
Os cidadãos daquele país tb se preocupam com a redemocratização.
08. NUNCA REPITA VÁRIAS VEZES A MESMA PALAVRA. Um dos erros que mais prejudica a expressão adequada de suas idéias é a insistente repetição de uma mesma palavra. Isso causa uma impressão desagradável a quem lê sua redação, além de sugerir pobreza de vocabulário. Quando você constatar que repetiu várias vezes o mesmo vocábulo, procure imediatamente encontrar sinônimos que possam ser usados em substituição a ele. Observe um exemplo:
Os empresários têm encontrado certos problemas para contratar mão-de-obra especializada, nesses últimos meses. O problema da mão-de-obra é conseqüência de um problema maior: os altos níveis de desemprego cons-tatados algum tempo atrás. Enfrentando problemas para conseguir em-pregos nas fábricas a que estavam acostumados, dedicaram-se a outras atividades, criando, para as Indústrias, o problema de não encontrar pes¬soas acostumadas a funções especificas. Demorará ainda algum tempo pa¬ra que este problema seja solucionado.
09. PROCURE NÃO INOVAR, POR SUA CONTA, O ALFABETO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Evidentemente, certas caligrafias apresentam algumas variações no modo de escrever determinadas letras do nosso alfabeto. No entanto, essa possível varia¬ção não deve ser exagerada a ponto de tornar a letra praticamente irreconhecível.
10. TENTE NÃO ANALISAR OS ASSUNTOS PROPOSTOS SOB APENAS UM DOS ÂNGULOS DA QUESTÃO. Uma boa análise pressupõe um exame equilibrado da realidade na qual se situa o assunto tratado em uma dissertação. O bom senso, nas opiniões emitidas, está diretamente relacionado à capacidade de se enxergar o problema pelos diversos ângulos que apresenta. Uma análise extremamente ra¬dical ignora outros aspectos que devem ser levados em conta em uma reflexão equi¬librada sobre qualquer tema, por isso é indesejável. Note, neste trecho, como isso ocorre:
O advento da televisão nas últimas três décadas foi, com certeza, o gol¬pe mortal desferido na inteligência e na cultura dos milhões de telespec¬tadores que dela se utilizam e que a ela estão inconscientemente aprisio¬nados. É a televisão a grande responsável pelo processo de massificação a que se submetem principalmente as novas gerações. Afastadas dos li¬vros e das formas mais eruditas da música e de outras artes, têm diante dos olhos o desenrolar de programas medíocres que promovem, indiscu¬tivelmente, a desinformação.
Isso sem contar com as distorções de comportamento provocadas prin-cipalmente nas crianças que assistem, impassíveis, aos desenhos que pri¬mam pela violência, destruição e insensibilidade.
Este veículo de comunicação é, sem dúvida, o mal do nosso século: des¬trói o espírito crítico e promove a alienação em todos os níveis.
11. NÃO FUJA AO TEMA PROPOSTO. Quando você receber um tema para dissertar sobre ele, leia-o com atenção e escreva sobre o que se pede. Jamais fuja do assunto solicitado, mesmo que seus conhecimentos sobre ele sejam mínimos. Costuma-se atribuir nota zero (ou um pouco mais) a uma redação sobre outro assunto não aquele pedido. Não é difícil entendermos o quanto seria absurdo alguém seriar sobre os acidentes ocorridos em usinas nucleares em várias partes do mundo quando o tema pedido fosse o problema dos menores abandonados no Brasil. Para evitar esse tipo de inconveniência, antes de começar a elaborar a redação convém ler várias vezes o tema para compreender exatamente o que está se solicitado.
Às vezes comete-se um outro engano semelhante ao que foi comentado acima: de acontecer de se desenvolver um tema similar àquele que foi proposto. Isso também prejudica demais a redação, pois mostra que a pessoa não apresenta capacidade de ler e interpretar corretamente a solicitação feita. Suponhamos que o tema fosse o seguinte:
O governo brasileiro vem empreendendo esforços para, juntamente com o governo da República Argentina, criar acordos de cooperação econômica, lançando as bases para a possível formação de um mercado comum sul-americano.
Caso não compreendesse bem o conteúdo dessas afirmações, a pessoa poderia incorrer no erro de dissertar sobre algum assunto paralelo. Por exemplo, escreveria sobre como essas duas nações conseguiram retomar os rumos da democratização, depois de longos períodos de ditadura militar. Embora esta análise esteja relacionada com o tema dado, não aborda propriamente o assunto central proposta ou seja, os acordos de cooperação econômica.
ATENÇÃO!
Até agora, mostramos o que você não deve fazer em sua dissertação. Terminaremos este assunto com uma recomendação importantíssima sobre o que deve ser feito:
Utilize sempre a 1ª pessoa do plural em vez da 1ª pessoa do singular em suas dissertações. Em outras palavras, você deve escrever “acreditamos”, “entendemos”, “analisamos”, e não “acredito”, “entendo”, “Analiso”. Saiba que, embora possa pa-recer um tanto estranho, este é o procedimento habitual quando se redige uma disserta¬ção. Para que você entenda melhor, daremos um exemplo transcrevendo a Conclusão de uma composição, inicialmente na 1ª pessoa do singular e, depois, na 1ª pessoa do plural:
Em vista do que foi observado, verifico a existência de um nítido contraste entre estas duas regiões brasileiras. Espero, como cidadão sensível a essa pro¬blemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos os brasileiros condições dignas de subsistência.
Em vista do que foi observado, verificamos a existência de um nítido con-traste entre estas duas regiões brasileiras. Esperamos, como cidadãos sensí-veis a essa problemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos os brasileiros condições dignas de subsistência.
Leia com atenção os dois parágrafos conclusivos e observe o diferente efeito causado pelo uso de uma ou de outra pessoa do discurso. Parece-nos indiscutível o fato de a 1ª pessoa do plural imprimir à redação um cunho impessoal, além de elevar o nível da linguagem. Ademais, é a forma convencionalmente usada nas dissertações em geral.
Para finalizar nossas considerações sobre a dissertação, convém dar uma última su-gestão: procure sempre se manter informado sobre os mais diversos assuntos. Quanto melhor você conseguir compreender as questões econômicas, políticas e sociais de seu país e do exterior, maiores condições terá de redigir sobre qualquer tema.
Não perca oportunidades de conversar com pessoas que conheçam determinado as-sunto, na tentativa de aprender algo com elas. Ler jornais e revistas, assistir a progra-mas de telejornalismo, ouvir entrevistas pelas emissoras de rádio também parece-nos muito importante.
Somando o que você puder aprender através destes procedimentos às informações que lhe são transmitidas durante as aulas, você certamente ampliará cada vez mais sua cultura geral.