Final do século XVI e início do século XVII
Período literário caracterizado pelos contrastes, oposições e dilemas. O homem do barroco buscava a salvação ao mesmo tempo que queria usufruir dos prazeres mundanos, daí surgiram os conflitos. É o antropocentrismo (homem) opondo-se ao Teocentrismo (Deus). O homem deste período está entre o céu e a Terra. Mesmo se valorizando, ele vivia atormentado pela idéia do pecado, então vivia buscando a salvação.
Contexto histórico
Brasil Colônia. Decadência do comércio de Portugal; Espanha principal foco irradiador; transformações ocorridas no Nordeste; invasões holandesas; apogeu e decadência da cana-de-açúcar.
Características
- Culto dos contrastes. Presença da antítese: claro/escuro; vida/morte; tristeza/alegria; conflito entre o homem e Deus; Pessimismo; Culto exagerado da forma, intensidade = presença da hipérbole (figura de linguagem caracterizada pelo exagero da expressão); sobrecarga de figuras (metáfora, antítese); Cultismo/Gongorismo (linguagem exagerada, culta, extravagante); Conceptismo/Quevedismo (jogo de ideias, de conceitos, retórica aprimorada; apelo aos sentidos (sinestesia); efemeridade das coisas e da vida;
Autores e obras
1 - Bento Teixeira: ‘Prosopopeia’ marco inicial do Barroco brasileiro em 1601
2 - Gregório de Matos (1623-1696): apelidado ‘Boca do Inferno’. Escreveu poesia lírica, satírica e religiosa. Não publicou nada em vida, o que conhecemos de sua obra é fruto de pesquisas. O apelido é porque o autor retratava a sociedade da época (às vezes, com uma linguagem considerada de baixo calão.)
3 - Padre Antônio Vieira (1608-1697): ‘Sermão da Sexagésima’, ‘Sermão de Santo Antônio aos peixes’
4 - Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711): ‘Música do Parnaso’ (1705).
A instabilidade das cousas do mundo (Gregório de Matos)
Nasce o sol e não dura mais que um dia. (antítese vida/morte)
Depois da luz, se segue a noite escura, (antítese claro/escuro)
Em tristes sombras morre a formosura, (antítese feio/belo)
Em contínuas tristezas a alegria. (antítese tristeza/alegria)
Porém, se acaba o sol, porque nascia? (dúvida)
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se trasfigura?
Como o gosto da pena assim se fia? (sofrimento)
Mas no sol e na luz falta a firmeza;
Na formosura, não se dê constância
E, na alegria, sinta-se tristeza. (antítese tristeza/alegria)
Começa o mundo, enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza:
A firmeza somente na inconstância.
O poema acima é formado por 2 quartetos e 2 tercetos, num total de 14 versos. Esta é a estrutura de um soneto. Se notarmos bem veremos que há uma figura constante: a antítese. Figura pela qual se faz a contraposição de palavras. O traço comum a todos os versos da segunda estrofe é a interrogação, a dúvida e a incerteza. O Barroco enfatiza tudo que é inconstante, que muda de aparência,que está em movimento.
Pica-flor (Gregório de Matos)
Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fica então Pica-flor.
Esta décima foi escrita por Gregório de Matos para satirizar uma freira que não gostava dele. Observa-se que estes versos têm um tom erótico, pois o poeta utiliza expressões que remetem ao ato de cópula. Tratado pela freira por ‘Pica-flor’ o mesmo diz aceitar a alcunha desde que esta tenha um lugar para guardá-lo, se ocorrer tal possibilidade permite que ela assim o chame.