Vinho para ceia de Natal

Ceia 1
O peru de Natal, o presunto tender, as frutas secas, os bolos, as rabanadas - se houver - o bacalhau com natas ou simples com batatas, cozido na água e de preferência com pouco alho. Esta é a consoada portuguesa, aquela da tradição da nossa gastronomia. Com que vinhos vai se tornar uma grande festa: com os tintos e os brancos? As melhores garrafas de portugueses do Dão, da Bairadda, do Douro e do Alentejo podem ficar com os bacalhaus mais condimentados (e até o alho, sou forçado a dizer, vai ser inevotável). Que sejam vinhos densos e acima de 13,5 graus.

Ceia 2
Muita gente vai preferir dar ênfase às frutas secas, aos presuntos cercados de ornamentos doces e ao inefável tender que nunca está ausente nessas ocasiões. A esses vamos sugerir os espumantes brasileiros, Dal Pizzol à frente, Vallontano em seguida, e mais uma série de outros vinhos competentes nessa área - inclusive alguns meio secos (o que em espumante quer dizer de suave a meio doce). É preciso distinguir os doces naturais, feitos de uvas doces como a moscatel, e vinhos com muita adição de açúcar - que não fazem bem, sobretudo no dia seguinte.

Ceia 3

Os espumantes importados, até a semana de fechamento desta coluna, estavam a preço bem comportado, por causa do dólar - e dos estoques altos. No Momento do Brinde, Sardenberg e eu chegamos a conversar sobre a cava espanhola, cuja qualidade anda subindo. Os catalães - são espumantes da Catalunha, feitos ao redor de Barcelona -, orgulhosos de sua gastronomia, copiam os franceses e conseguem resultados surpreendentes. Mas há vinhos parecidos com o champanhe que são do interior da França - e eu cito dois disponíveis em São Paulo: o crémant de Bourgobne e o crémant d'Alsace.

Ceia 4
Amigos meus - e eu também - preferem o pretexto. Ah, é Natal? Então por que não uma ceia especial, mas de gastronomia pura, como uma bela entrada de mar, um prato de assado ou uma concepção fora da rotina como segundo prato, uns queijos franceses e italianos e, aí sim, duas ou três garrafas de qualidade, em disposição ascendente, ou seja, começando com um grande branco para chegar ao topo, um tinto extraordinário? Esta pode ser a escolha do Natal. Um presente para os convivas e certamente para quem oferece, porque vão falar dele ou dela durante muito tempo.

Ceia 4 e meio
Não vamos exagerar nessa história de espumantes. Vamos guardá-los para o fim do ano: o réveillon. O Natal inspira festas de família, gastos às vezes excessivos, e é nisso que estou pensando. As importadoras em São Paulo se esmeraram. Tem de tudo. Vou fazer aqui um desafio aos bolsos e aos gostos: alsácias grand cru, alemães do Mosela, e na entrada dos convidados, um bom champanhe Pol Roger, porque não há melhor, a não ser o Bollinger, que é caro demais. Esses brancos podem ser de Hugel, Trimbach, De Montille, Lafon, Roulot, Faiveley, Luis Pato, Dauvissat, Raveneau, estes últimos muito raros aqui.


Renato Machado começou a carreira jornalística no rádio, em 1967. Foi repórter da BBC e do Jornal do Brasil e correspondente da TV Globo em Londres. Apresentou o Jornal da Globo, o Fantástico e o Jornal Nacional e, desde 1996, é editor-chefe e apresentador do Bom Dia Brasil. Autor dos livros "Em volta da mesa" e "O assunto é vinho", este em parceria com Carlos Alberto Sardenberg, foi premiado pelo governo francês, em 2005, com o "Troféu do Espírito Alimentar" pela realização de documentários sobre vinhos na França. É titular de uma coluna mensal sobre vinhos, na revista Prezeres da Mesa, desde setembro de 2008.