Luizinho Duarte - Músico

Luizinho Duarte, músico, compositor, arranjador e instrumentista, com raízes iguatuenses, esteve na Região por ocasião do Festival de Música de Câmara, evento do projeto Cultura Itinerante da Secretaria de Cultura do Ceará, que ofereceu diversificada programação cultural/musical ao público do Centro-Sul e Vale do Salgado, nas apresentações em Iguatu e Icó. Em entrevista ao Jornal A Praça, Luizinho conta um pouco de sua trajetória como compositor, músico, o surgimento do quarteto Marimbanda e a sensação de tocar ao lado de grandes nomes da MPB, como Fagner, Tim Maia, Maria Bethânia, Zeca Baleiro, Elza Soares, Fausto Nilo, Leila Pinheiro e outros.


A Praça - Sua vinda a Região incluiu, além das apresentações no projeto da Secult, um curso de música para estudantes de Iguatu. Existe aqui alguma musicalidade nos jovens iguatuenses que possa justificar o que os críticos chamam de ‘celeiro da música’ numa referência a Humberto Teixeira, Eleazar de Carvalho, Evaldo Gouvêa e outros nomes?
Luizinho - Estou surpreso em chegar a Iguatu e ver tantos talentos, tanta gente talentosa para a música. Ministrei um curso de bateria e prática de conjunto. Encontrei muitos estudantes, todos eles muito interessados, cuidadosos e com uma musicalidade totalmente aflorada. Na minha opinião o que falta para toda esta gente é a oportunidade de estudar música. Eles precisam de material didático, instrumentos, uma boa estrutura (escola) e uma boa equipe de professores, permanentemente dando aulas para eles. Todos esses elementos juntos poderão ajudar a revelar grandes talentos da nossa música no futuro.

A Praça - Em Icó e Iguatu você participou de apresentações dentro de um evento pouco conhecido na Região, musicalmente falando. O que é ‘Música de Câmara’?
Luizinho - É um tipo de música tocada em ambientes pequenos. O termo ‘Câmara’ quer dizer ‘sala pequena’ na linguagem italiana. Trios, duos, quartetos, quintetos, sextetos, para tocar nessas pequenas salas. É qualquer formação instrumental que se limite a poucos executantes. É literalmente a música destinada a pequenos espaços e por isso a música escrita para pequenas formações.

A Praça - Qual são suas raízes com o município de Iguatu?
Luizinho - Os meus avós Joaquim Antônio Duarte e Joana Pereira dos Santos moraram em Iguatu, aqui construíram a nossa família. Minha mãe, dona Maria Duda, nasceu em Aurora, mas chegou a Iguatu com seis anos de idade. Meu pai, senhor José Xavier, era funcionário da antiga Reffsa. Ele trabalhava na parte mecânica, responsável pela manutenção das máquinas, dos trens que passavam por aqui. Meu pai conheceu minha mãe aqui em Iguatu. Foi amor à primeira vista. Namoraram, casaram e foram morar em Fortaleza, onde eu e meus irmãos nascemos. Na minha infância, eu vinha sempre vinha passar férias em Iguatu. Era uma época maravilhosa passar férias na casa dos meus avós, aquela ‘casa de música’, porque meus tios, todos tocavam violão, meus primos também gostavam de música. Acho que foi naquela época que eu comecei a receber a influência da música em minha vida. Aliás, esta influência veio da família da minha mãe, família Duarte. Quando fui crescendo, na minha casa sempre convivi com a música, lá em Fortaleza, com meus irmãos. Aos 16 anos entrei de cabeça na carreira musical e nunca mais saí de lá. É uma coisa que faço por amor e por paixão, faço música porque ela está no sangue, na veia, gosto do que faço e não quero sair dela. Sou muito feliz com o que faço na música.

A Praça - Em 1999 você criou o quarteto cearense Marimbanda. É um projeto musical diferenciado? Como surgiu o nome?
Luizinho - Na verdade é um projeto diferenciado sim. A diferença é que trabalhamos a música de boa qualidade e o grupo tem um instrumental diferente, não tradicional. O nome Marimbanda surgiu de um título de uma música do grande baixista Adriano Giffoni, um cearense radicado no Rio de Janeiro.


A Praça - Os dois CD’s do grupo, ‘Marimbanda’ (2001) e ‘Tente Descobrir’ (2005), trazem músicas instrumentais, a maioria composições suas. Por que a música instrumental, uma forma de projetar o Ceará e seus talentos, com uma modalidade mais bem acabada?
Luizinho - O Ceará sempre teve grandes talentos, intérpretes, compositores, músicos. Há 30 anos surgiu um grupo de cantores, instrumentistas, compositores que ainda hoje está na atividade. Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo, que todo este pessoal está na estrada fazendo essa música marcada, conhecidos nacionalmente divulgando o Ceará. Hoje, na verdade, o Ceará mudou um pouco o cenário. Hoje temos um novo movimento de música instrumental que surge com muita força. Estamos vendo o surgimento de muitos talentos, gente fazendo a boa música. Eu batalhei muito por esta música instrumental, porque na década de 80 passei a sugerir aos colegas, esse estilo, levando principalmente para a música regional. Acho que é uma tendência muito forte da música brasileira. O grupo Marimbanda surgiu em 1999 e já colocamos nossa música em vários lugares, sempre recebendo de volta uma aceitação muito boa do nosso trabalho. Acredito que para nós cearenses seja um orgulho apresentar música de tão boa qualidade e com tão grande conceito no cenário nacional. Algo que muito nos conforta é ver o surgimento de outros grupos cearenses enveredando por esse estilo da música brasileira, a música nordestina, principalmente de boa qualidade.

A Praça - Você já tocou ao lado de nomes de expressão da MPB, como Tim Maia, Fagner, Zeca Baleiro, Maria Betânia, Leila Pinheiro, Elza Soares, Fausto Nilo e outros. Quais as particularidades que você destacaria dessas experiências vividas?
Luizinho - Minhas experiências com todos eles foram muito boas. Aprendi muito em trabalhar com esses artistas, acho que minha contribuição como músico foi interessante, porque quando somos artistas, profissionais, procuramos sempre fazer o melhor que pudemos. Tocar com esses artistas foi muito importante para minha carreira como instrumentista em todo Brasil. Já fiz excelentes trabalhos como instrumentista, no Brasil e em outros países. Sou muito grato a eles pela parceria que fizemos que para mim foram muito válidas.

A Praça - Além de ser exímio compositor você toca vários instrumentos. É verdade que você continua estudando música?
Luizinho - O músico nunca pode deixar de estudar. Ele deve estar sempre em atividade, porque o estudo da música é infinito. Eu preciso estudar muito, porque além de compositor sou instrumentista, arranjador e compositor. Sou um professor e como professor preciso estudar para poder ensinar.

Entrevista concedida ao Jornal A Praça (repórter J. Guedes) em janeiro de 2006